ANO_2022

Como Analisar o Mercado de Ações

A decisão em investir em uma ação deve ser precedida de uma análise de expectativas dos resultados da empresa, que se forem positivas podem valorizar o preço ações. A partir dessa análise temos diversos indicadores que acompanham o investidor, evidenciando a qualidade da empresa. Na essência, a análise de ações é dar valor a uma empresa, e certamente cada investidor tem seus parâmetros de prioridade para uma empresa.

Por exemplo, tem investidores que priorizam os dividendos, outros em investidores que preferem a governança e sustentabilidade de uma empresa e alguns investidores tem mais apreço a expansão de uma empresa etc. Esses parâmetros são identificados principalmente nos balanços contábeis e na postura da empresa frente algumas situações.

Critérios de Análise

O processo de decisão de investimento deve carregar um racional por trás, um método de análise no qual formaliza a decisão de investimento. Essa formalidade acarreta na mitigação de riscos ao investir.

Uma análise razoável pontua riscos de um negócio e o retorno que esperamos de tal negócio. Durante a história econômica os setores divergem quanto a performance, onde o cenário macroeconômico afeta de maneira diferente cada setor da economia. Em momentos de expansão econômica (aumento no crédito na praça, menor desemprego, maior confiança do consumidor), por exemplo, o varejo tem uma performance muito boa por ser muito sensível ao cenário.

Assim, esse tipo de modelo de avaliação, que leva em conta como está o ambiente macroeconômico, como ela afeta os diversos setores e como as empresas de diversos setores estão posicionadas, é chamado de análise fundamentalista. Essencialmente a técnica fundamentalista procura um fundamento por trás da decisão de investir.

Análise Top Down e Bottom Up

As premissas básicas da análise fundamentalista são o compilado de informações econômicos e financeiras que permitem formar projeções futura de performance. Podemos desmembrar ela em:

  • Avaliação da posição econômico financeiro da empresa (via balanço contábil)
  • Projeção de Resultados futuros (via expectativas)
  • Calcular o valor justo da empresa

Temos duas óticas para calcular o valor justo de uma ação. O primeiro é a análise top down (“de cima para baixo”)ebottom up (“de baixo para cima”).

No método top down, a avaliação tem como base o cenário econômico, devendo o valor de uma ação refletir o ambiente no qual ela está inserida. Projetando o crescimento do PIB, inflação e juros, se constrói diversos cenários, como pessimista, base e otimista. A partir desses cenários que são tomados os direcionamentos.

Os direcionamentos incluem os setores que aderem melhor ao cenário mais provável e a empresas dos setores escolhidos que aderem melhor a política de investimento e parâmetro do investidor. Como havia dito, há diversas parâmetros de escolha, seja ela uma empresa mais sólida, uma empresa em ascensão, uma distribuidora de dividendos, uma empresa em reconstrução etc.

No método bottom up, ao contrário, desenvolve a análise de ação debaixo para cima. Ou seja, ela foca primordialmente nos fundamentos da empresa primeiro, como: desempenho histórico e expectativas de crescimento e resultados e em seguida analisa o setor e o ambiente econômico.

Vale mencionar com os métodos não são excludentes e sim complementares.

Indicadores de Análise de Ações

Os indicadores de análise objetivam avaliar os reflexos do desempenho da empresa sobre o seu valor de mercado. Fornece parâmetro de comparação e de análise da situação financeira da empresa.

Os indicadores são agrupados em indicadores de liquidez, indicadores de lucratividade, indicadores de gestão e indicadores de valor de mercado.

Indicadores de Liquidez

Como o nome sugere, os indicadores de liquidez fornecem informações sobre a liquidez da empresa. Em outras palavras, é a capacidade da empresa em pagar suas dívidas. Essas contas concentram no ativo circulante e passivos. Segue a lista dos indicadores:

1 – Índice de Liquidez Corrente

O índice de liquidez corrente é definido assim:

É uma medida de liquidez de curto prazo. Ou seja, é a relação de ativo que são transformados em caixa ao longo de 12 meses para cobrir suas dívidas de curto prazo.

Ele é afetado por inúmeras transações. Por exemplo, se uma empresa decide levantar recursos via um empréstimo de longo prazo. O efeito de curto prazo seria um aumento do caixa e um aumento da dívida de longo prazo. Logo o passivo circulante não seria afetado e, portanto, o índice de liquidez corrente aumentaria.

Se o índice der maior ou igual a 1, quer dizer que suas dívidas de curto prazo são cobertas pelos seus ativos de curto prazo.

2 – Índice de Liquidez Imediata

O índice de liquidez imediata é definido assim:

Em geral, o estoque é o ativo circulante menos líquido e com valores contábeis menos confiáveis, por que a qualidade de estoque não é considerada fazendo com que parte do estoque pode estar danificada ou obsoleta.

Desse modo, temos um índice mais fidedigno à liquidez da empresa e segue a mesma lógica do índice de liquidez corrente.

3 – Índice de Endividamento Total

O índice de endividamento total é definido assim:

Ele leva em conta todas as dívidas da empresa e mostra a real participação de capital de terceiros na estrutura de capital da companhia.

Vamos supor que uma empresa possui R$ 100,00 de Ativo e R$ 80,00 Passivo (circulante e não circulante) e R$ 20,00 de Patrimônio Líquido.

Quer dizer que 80% da estrutura de capital é de terceiros e apenas 20% é de capital próprio. Cabe ao analista analisar bem suas dívidas, por que são elas que compõem, em maioria, o custo de capital da companhia.Vale lembrar também a quantidade de dívidas em dólar. Empresas com grande quantidade de dívidas dolarizadas podem sofrer em momento de estresse, quando o dólar se valoriza frente ao real.

4 – Índice de Cobertura de Juros

O índice de cobertura de juros é definido assim:

Como sugere o nome, esse indicador mede a capacidade operacional de gerar caixa que a empresa tem em relação seus compromissos. Indicamos pelo menos um valor de 1.

O NOPAT (lucro operacional líquido após impostos) é uma medida de fluxo de caixa operacional depois dos impostos. Ela desconta todas as despesas, além da depreciação e os custos tributários do negócio antes das despesas financeiras.

Em empresas com elevados maquinários, possuem uma depreciação elevada, o que impacta no valor econômico de uma empresa. Sendo assim o NOPAT é um valor mais fidedigno com a capacidade operacional da empresa.

Indicadores de Lucratividade

Os indicadores de lucratividade fornecem medidas da eficiência operacional da empresa. Segue a lista dos indicadores:

1 – Margem Líquida

A margem líquida é definida assim:

Mede a eficiência total da empresa. Ou seja, a cada R$ 1,00 de vendas, o quanto que se torna lucro para os acionistas.

2 – Margem NOPAT

A margem NOPAT é definida assim:

Mede a eficiência operacional da empresa. Ou seja, a cada R$ 1,00 de vendas, o quanto que gera lucro operacional líquido de impostos.

3 – Retorno sobre Capital Investido (ROIC)

O ROIC é definido assim:

Esse índice mede o retorno total da empresa para credores e acionistas. Um bom índice para comparar empresas de mesmo setores. Quanto maior, melhor.

4 – Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE)

O ROE é definido assim:

Esse índice mede o retorno total da empresa para os acionistas. Para cada R$ 1,00 do capital do acionista o quanto que a empresa gera para o acionista.

Quanto maior, mais retorno a empresa gera aos acionistas.

Indicadores de Gestão

Esses indicadores destinam a descrever a eficiência ou a intensidade com que uma empresa utiliza seus ativos para gerar vendas.

1 – Giro do Ativo

Ele é definido como:

Quanto maior o indicador, mais volume a empresa tem de vendas.

2 – Prazo Médio de Estocagem

Ele é definido como:

Quanto maior o índice (expresso em dias), menos eficiente é o escoamento do estoque.

3 – Prazo Médio de Recebimento

Ele é definido como:

Ela exprime em dias o quanto que a empresa aguarda para receber os valores das vendas. Normalmente empresas que financiam seu caixa, ou seja, vendem a prazo, tem um prazo médio de recebimento maior.

4 – Prazo Médio de Pagamento

Ele é definido como:

Quanto maior o índice (expresso em dias), maior o tempo para a empresa realizar os pagamentos para os fornecedores. Normalmente empresas sólidas e com ótimo relacionamento com os fornecedores tem condições de pagamento diferenciadas, transcrevendo em um prazo médio de pagamento mais elevado.

Indicadores de Valor de Mercado

Esses indicadores não se baseiam só nas informações contábeis. O preço da ação por exemplo. Esses indicadores só podem ser calculados para empresas de capital aberto. Segue a lista dos indicadores:

1 – Índice Preço/Lucro

O P/L é definido assim:

Vamos supor que uma empresa está cotada a R$ 88,00 e tem um lucro por ação de R$ 11,00.

Quer dizer que a empresa está sendo negociada 8 vezes o lucro dela. Ou seja, os investidores terão que pagar R$ 8,00 por R$ 1,00 de lucro.

É um indicador que merece uma atenção redobrada antes de pautar algum fundamento sobre. Normalmente quanto maior esse índice, mais caro está a empresa, ou seja, se valorizando.

2 – Índice Valor de Mercado/Valor Contábil

Este índice é definido assim:

O valor da empresa é definido como: (Preço por ação X Quantidade de ações) + Dívida Líquida.

Este índice compara o valor da empresa em relação ao seu patrimônio líquido. Ou seja, quanto maior, maior é o valor de mercado da empresa, e consequentemente maior a valorização.

Desse modo, um valor menor que 1 quer dizer que o mercado enxerga de maneira pessimista a empresa.

3 – Múltiplos do Valor da Empresa

Este índice é definido assim:

Esse múltiplo permite comparação entre empresas que são diferentes na estrutura de capital. As despesas com juros, impostos ou gastos de capital não afetam a comparação.

Assim como o P/L, quanto maior o múltiplo, maior foi a valorização da empresa.

Preço Justo (Valor Intrínseco) - Valuation

Para analisar uma ação devemos ter em mente esses indicadores para que tenhamos um norte ao fundamentar nossas decisões. Essa é o primeiro passo para que quer alcançar o preço justo de uma ação. O preço justo é extraído do método Valuation viafluxo de caixa descontado*.* De uma maneira bem breve, o método segue o seguinte raciocínio:

Ela equivale a projeção do fluxo de caixa descontado a valor presente pelo custo de capital da empresa.

Descontando-se do valor da empresa todas as dívidas, perante a terceiros chega-se ao valor de seu patrimônio líquido projetado. Dividindo o valor do patrimônio líquido projetado pelo número total de ações, apura-se o preço justo de cada ação.

Para decisões de investimento devemos encontrar empresas que valem mais do que estão sendo negociadas hoje. A partir do método de fluxo de caixa descontado, o investidor pode alcançar o valor justo de uma companhia e tomar uma decisão mais fundamentada.

Conclusão

Para tomar uma decisão bem fundamentada de investimento, o investidor deve realizar um trabalho profundo de pesquisa econômico financeiro das empresas.

O Brasil possuí mais de 400 ações listadas, o que torna difícil a tarefa de acompanhar todas. Através das análises apresentadas nesse artigo, o investidor consegue criar um filtro tanto setorial quanto da qualidade das empresas, facilitando o acompanhamento.

Desse modo, a análise fundamentalista capitaliza no médio e longo prazo, trazendo ótimos resultados para os seus adeptos.

Caso o investidor queira recomendações de investimento é recomendado procurar análises de consultorias independentes. Elas aconselham as estratégias mais aderentes ao seu perfil e são alinhadas com seu interesse, o de rentabilizar o seu patrimônio.

Sobre o Autor:

Alfredo Vidiri

Sócio fundador da Sapiens Consultoria de Investimentos

Analista e Consultor de Valores Mobiliários

Instagram: @vidiri